terça-feira, 10 de maio de 2011

Ninguém foi lá ver. Ninguém perguntou

Por Izabella Corrêa

Vinte e cinco anos passados, 440 vezes mais radiação que a bomba atômica de Hiroshima, mais de seis mil casos de câncer, quatro mil mortes de crianças prematuras. Certamente esses dados permitem pensar em um assunto, mas difícil seria saber sobre eles só a partir do assunto dado, sem que fossem mencionados. É esse elemento que pesa na cobertura jornalística internacional.

Dia 26 de abril de 2011 completava-se 25 anos do acidente nuclear em Chernobyl, o mais devastador acidente dessa natureza na história humana e não vimos e nem ouvimos qualquer coisa significante sobre isso nos meios de comunicação, salvo engano, aqui e ali na internet houve tentativas de tocar na temática.

Uma pesquisa realizada pelo núcleo de assuntos internacionais da Universidade de Brasília, UnB, sobre a cobertura midiática dos temas externos ao Brasil, ajuda a argumentar sobre a ausência de falas representativas sobre Chernobyl. Para Cristina Inoue, professora responsável pela pesquisa, “a cobertura internacional de nossos veículos de informação não permite aos leitores e/ou telespectadores responder questões básicas acerca daqueles temas internacionais”. É o que verificamos nas matérias sobre os 25 anos de Chernobyl, entretanto é necessária a colocação que Chernobyl agora perde em “relevância” mundial para Fukushima, pela proximidade do evento, pela própria cobertura; ora, é mais caro ao jornalismo “hard” só falar da crise nuclear japonesa de forma pontual relacionando brevemente aos 25 anos de Chernobyl, do que recolocar em cena os aspectos do acidente, suas causas, seus personagens, o impacto no mundo, e aí então trazer à baila Fukushima e os discursos sobre a segurança da energia nuclear.

É notável que os meios têm potencialidades de complementação, o que fornece toda a justificativa para se fazer uma cobertura ampla de Chernobyl que envolva os temas atuais partindo da singularidade da data abril de 1986. Aqui é necessário dar o devido crédito a iniciativa solitária do portal da IG, “Último segundo”, que colocou algumas informações que permitem aos leitores saber mais do assunto, as características. (http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/meioambiente/acidente+de+chernobyl+completa+25+anos/n1300099036837.html)

Nesse ponto, o sugerido que falta é a noção que Paul Bradshaw introduziu como a teoria do diamante na produção da notícia; faltam as etapas de maior aprofundamento, debate, e análise, no que poderia se introduzir pelas falas especializadas nas vozes de pessoas públicas, físicos nucleares, médicos e principalmente, pela busca por depoimentos de quem esteve em Chernobyl, personagens reais que vivenciaram a tragédia e, diferentemente da imprensa geral, lembram-se dela todos os dias.

Outro fator que pode ser citado é a não-cobertura in loco desses fatos, o que prejudica a compreensão de forma mais interessante. Muitos dos grandes jornais, impressos e televisivos, assim como a grande maioria dos portais na web, publicam e fazem releituras das notícias das agências internacionais, o relato do relato do relato.

Por fim, isso tudo para dizer do silenciamento da imprensa brasileira frente a um acontecimento da ordem do universal, que tem tantas implicações sentidas até hoje, que tem tantas histórias ainda não desvendadas; um acontecimento que serve de base pra se pensar muitas questões polêmicas, que carecem de debate, de reflexão informada, desde a condição do Japão, passando pelas doações para a construção do novo sarcófago em Chernobyl, até as postulações de países que vivem da energia nuclear como Alemanha e França. É esse espaço da reflexão que o jornalismo deve buscar na abordagem desses temas, e na seleção dos mesmos. Existe algo importante além do “quintal” fragmentado no qual a mídia se esconde?


ObamaxOsama narrado por Bonner

Por Laura Alves

A rede de TV CNN afirmou, na noite de domingo, dia primeiro de maio, que Osama Bin Laden está morto. Logo após a afirmação da CNN, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, realizou um pronunciamento comentando a morte.

Bin Laden, líder da organização terrorista Al-Qaeda, foi morto em uma propriedade nos arredores de Islamabad, no Paquistão, e, de acordo com autoridades norte-americanas, seu corpo foi lançado ao mar.

Vamos analisar a reportagem exibida pelo Jornal Nacional na noite de segunda-feira, dois de maio:

http://www.youtube.com/watch?v=1Nn_TiG8dTc

http://www.youtube.com/watch?v=ShFplpl8hMw

http://www.youtube.com/watch?v=aiZk8SW7kFo

http://www.youtube.com/watch?v=_MOLIBBYHBs

A matéria mostra a população norte-americana em êxtase, comemorando a morte de Osama, além de inúmeros pronunciamentos de autoridades sobre o caso e relatos de pessoas que perderam familiares no ataque às Torres Gêmeas, em setembro de 2001. Entretanto, em momento algum foi comentada a quantidade de inocentes mortos na invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão vinte e seis dias após o atentado às torres, na busca do terrorista.

Sobre o Afeganistão, onde a Al-Qaeda nasceu e mantém centros de treinamentos, pouco se comentou. O país que, provavelmente, mais sofreu e sentiu na pele a violência causada pelos membros da organização terrorista, merecia mais atenção e cobertura. De acordo com o Jornal Nacional, muitos afegãos se sentiram aliviados com o ocorrido, mas não há na matéria nenhuma fonte que comprove isso.

A morte de Osama é um assunto que realmente interessa o mundo e foi um bom momento para a imprensa brasileira mostrar sua força em coberturas internacionais. Entretanto, a matéria do Jornal Nacional falhou ao dar pouco enfoque à falta de prova. Onde estão as fotos e os vídeos da operação, já que vivemos em uma era onde a imagem é tudo? De acordo com Willian Bonner, as fotos liberadas pela Casa Branca no momento em que o presidente recebia a notícia vão virar documento desse momento histórico vivido. Ainda segundo o jornalista, os Estados Unidos não decidiram se vão ou não divulgar fotos do corpo do terrorista. Porém, a opinião pública do mundo exige respostas diretas e plausíveis.

Por qual motivo as autoridades norte-americanas não disponibilizaram um material mais concreto do ocorrido? Não houve essa ética quando Saddam Hussein foi executado. Apesar de o governo ser outro hoje em dia, seria natural pensar na desvantagem que o presidente poderia ter dando esse espaço para cobranças da oposição às vésperas das eleições.

A matéria exibida acertou ao apontar opiniões contrárias à reação da população dos Estados Unidos. Foi o caso da declaração do vice-presidente da Venezuela, que questionou a ética de celebrar uma morte. Outro ponto positivo da matéria é o momento em que mostra aos brasileiros como o ocorrido influenciará nas eleições norte-americanas do ano que vem.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O circo do Realengo



Laura Alves e Marianne Fonseca

Vamos analisar através da reportagem exibida no dia 10 de abril pelo “Fantástico”, que fez uma reconstituição do massacre, a exposição exagerada das crianças, a repetição de imagens chocantes e a falta de uma opinião especializada no assunto.

Sete de abril de 2011, o café da manhã e o despertar de várias camadas sociais brasileiras foi guiado pela notícia de que o atirador Wellington Menezes de Oliveira havia invadido a escola Tasso da Silveira, no Realengo, Rio de Janeiro e disparado sem piedade contra 12 alunos. A partir deste momento estava montado o circo midiático.

A origem humilde da maioria dos alunos envolvidos no acontecimento, o desamparo e a falta de acompanhamento adequado fez com que esses jovens se tornassem protagonistas da nova novela da família brasileira. Eles eram as fontes mais viáveis e próximas do que havia ocorrido no interior da escola. Crianças colocadas em situação de conflito como esta, que foi comparada a um estado de pós-guerra, devem ser poupadas do alarde feito pela imprensa e tal conclusão não deve vir de um psicólogo, mas de qualquer pessoa que se coloque em posição de respeito a outras.

A matéria exibida pelo “Fantástico” no domingo após o massacre sobrepôs qualquer limite à dignidade humana, os jovens recém-saídos de um grande trauma foram expostos em entrevistas compulsivas por informações diferentes das já levadas ao ar. Todos se chocaram ao ver o desastre e o sofrimento daquelas pessoas e até se colocaram na situação das famílias envolvidas, mas de forma menos ampla, não pensaram que na sua própria estrutura familiar ou de convívio próximo podem existir problemas igualmente graves aos que provavelmente levaram Wellington a cometer os assassinatos.

A comoção causada pelo caso aumentou ainda mais quando imagens do circuito interno da escola, misturadas a registros amadores de celular lotaram o noticiário com correria, pessoas escorregando em sangue, o corpo do Wellington na escadaria do colégio e um aluno baleado, agonizando no corredor, enquanto familiares, curiosos e policiais corriam pelo local em busca de corpos.

O enfoque dado pelo “Fantástico” ao caso fez com que as famílias brasileiras se unissem para repensar estatutos de desarmamento, o papel da escola e a questão da segurança pública, mas em momento algum ouviu-se dizer da estrutura familiar, de regras sociais, conduta moral, pequenas atitudes preconceituosas ou de falta de respeito ao próximo.

Os meios de comunicação, além de informar e denunciar, têm o dever de mostrar à população os fatores sociais que desencadearam o fato e o que devemos modificar na sociedade para que esse tipo de barbaridade não volte a acontecer. A mídia brasileira falhou ao não apontar especialistas que atingissem os pilares da nação, para repensar até que ponto nossa pequena atitude homofóbica, racista, excludente, não atingem em uma maior alçada o local em que convivemos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Alarmantes ou alarmistas?

Eduardo Guimarães

O terremoto no Japão mexeu com a mídia nacional e internacional. É fato que as pessoas do mundo inteiro se interessavam em saber a real situação asiática. Mas será que essa necessidade imagética surgia por curiosidade ou pelo excesso delas na imprensa? Os brasileiros sentem muito mais a notícias que os japoneses, mas isso é cultura, lá as formas de lidar com um problema são diferentes.

A mídia brasileira cresceu em audiência durante a explosão, com o perdão da palavra, do desastre no Japão. De acordo com a colunista Keila Jimenez, o Jornal Nacional teve um aumento de 4 pontos de audiência, o Jornal da Record aumentou 2 e o Jornal da Band um ganho de 1,5 pontos de audiência. A imprensa nacional usa imagens chocantes, que correram o mundo. Uma tecnologia japonesa de gravação de vídeos e fotos que hoje serve apenas para o registro de uma tragédia. O terremoto e o tsunami perderam espaço para outro desastre, os perigos da energia nuclear.

Mas o enfoque da mídia está no caminho certo? Não estamos falando apenas de um país que teve reatores de uma usina nuclear expostos à radioatividade descontrolada, hoje falamos de elementos radioativos que acidentalmente foram lançados ao mar, podem chegar à qualquer lugar do mundo e a única preocupação é com os 20 funcionários que trabalham na usina?

Estamos falando da terceira maior economia mundial, que corre o risco de ficar sem alimento por causa da radiação. A mídia esqueceu que mais de 127 milhões de pessoas podem, literalmente, morrer de fome?! Em outra vertente, a terceira maior economia mundial está em crise, e como essa paralisação no setor industrial japonês influencia o restante do mundo? O dinheiro que circula por estes países podem criar uma Teoria do Caos na Economia Mundial? Não seria nada distante, pensar em uma possível quebra em determinadas bolsas de valores.

Claro que o espetáculo da natureza destruidora é algo que não pode passar desapercebido, mas o foco precisa ser outro. Quais as conseqüências à longo e médio prazo destes desastres? Como o Brasil poderá lidar com uma possível crise econômica mundial? O Japão pode ser suprido por outras formas de energias? Algumas perguntas são ignoradas pela maior parte da imprensa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Dispositivo de resposta social aos meios

Conceito –
O processo que criamos trata de um dispositivo em forma de um centro de sensibilização crítica para processos históricos; um trabalho de construção de um imperativo crítico para leituras midiáticas que envolvem acontecimentos e fatos ao longo da história brasileira e mundial, e será desenvolvido com alunos do terceiro ano do ensino médio do Colégio Providência de Mariana.

Parâmetros de trabalho –
Para produzirmos uma reflexão crítica direcionada aos meios de comunicação vigentes, vamos fazer uso de parâmetros rígidos de análise e compreensão. Trataremos os acontecimentos históricos e a cobertura deles sob uma perspectiva que se sustentará por quatro pilares fundamentais, são eles: declaração universal dos direitos humanos, pertencimento político, cidadania, e responsabilidade social da comunicação e jornalismo. Julgamos esses critérios de análise relevantes para a construção de um olhar mais sensível e crítico, e necessários para uma abordagem consciente dos efeitos produzidos pelas coberturas midiáticas ineficientes ou por aquelas mais plurais e consistentes.

Etapas e processamento –
O centro pretende desenvolver atividades duas vezes ao mês com os alunos. O ponto de apoio aos trabalhos virá da associação com a disciplina de história; em cada encontro faremos dinâmicas para apresentar os fatos, e a cobertura desses pela mídia de modo geral. É dessa interação, desse diálogo, que passamos pelo dinamismo e tensionamento do processo comunicativo, avaliando e respondendo a ele. A partir da análise e da interpretação, vamos direcionar para observação através dos parâmetros estabelecidos, apontar erros, sugerir medidas, e então movimentar o ciclo de produção da notícia, veiculação, recepção, e resposta social portanto.

A resposta aos meios, e as análises que virão desse processo de sensibilização entram em um segundo momento de atividade do centro, que vai funcionar paralelamente aos encontros com os alunos. O blog vai atuar para medir os encontros, e também como uma plataforma crítica onde não só os alunos mas todos do centro – os estudantes de jornalismo e os professores envolvidos - vão enviar suas sugestões, seus textos críticos. Além disso, teremos o espaço para divulgar as etapas de trabalho, e os bastidores do encontro.

Relevância –
A intenção desse projeto é sensibilizar o olhar e a interpretação diante dos fatos importantes da história que são tratados pela mídia muitas vezes com negligência. Acreditamos que os alunos podem ser motivados pelos critérios que vamos utilizar e dessa forma, vão adotar posturas mais reflexivas, o que pode se estender para os pais, para a família, os amigos. É assim que incentivaremos maior pensamento crítico, mais consciência do poder dos leitores e telespectadores, e a partir daí responder de forma mais inteligente aos produtores das notícias e acontecimentos.